sexta-feira, 8 de abril de 2011

Maternidade, respeito, compreensão e contribuição real

‘Da observação da irredutibilidade das crenças últimas extraí a maior lição de minha vida. Aprendi a respeitar as idéias alheias, a deter-me diante do segredo de cada consciência, a compreender antes de discutir, discutir antes de condenar. E porque estou com disposição para as confissões, faço mais uma ainda, talvez supérflua: detesto os fanáticos com todas as minhas forças’
Norberto Bobbio


Uma semana depois do parto e eu chorava mais do que a bebê. Eu estava apavorada com o peso da maternidade. Ela era um ser vivo, linda, e dependia totalmente de mim para sobreviver. Dependia do meu leite pra se alimentar. Dependia de mim para mantê-la aquecida, limpa e para lhe dar conforto nos momentos de dor.

Eu era uma mulher com mais de trinta anos e muitos anos de terapia, mas aquela era uma situação completamente nova. Eu estava muito assustada com a responsabilidade que tinha assumido. E tudo que me passava pela cabeça é que o meu fracasso custaria uma vida. Pode parecer dramático demais, mas era exatamente o que eu pensava. E eu não tinha nenhuma estrutura, naquele momento, pra receber críticas que não viessem acompanhadas de um cuidadoso “me dá aqui sua mão que eu vou te ajudar”. Eu estava exausta, lutando pra conseguir amamentar a bebê e para aprender a cuidar dela.

Foi quando ouvi do meu GO uma frase libertadora. Ele me disse: “Queridona, olha pro mundo. Tirando os casos extremos, se você “acertar” muito ou “errar” muito, vai dar tudo mais ou menos no mesmo lugar. O bebê vai crescer, ficar fortinho e começar a andar e falar...” E pensei: não é que é mesmo? E me senti segura para fazer o meu melhor e “acertar” o máximo possível.

Hoje, já bem recuperada daquela depressaozinha pós-parto, eu não tenho mais dificuldades com as críticas. E consigo conviver muito bem com as pessoas que esbravejam aos quatro ventos suas convicções, certas de que aquilo que elas consideram como “correto” é o “melhor” para todas as mães e todos os bebês em todos os momentos e em qualquer situação. Mas eu não sei como eu me sentiria ao receber certos bombardeamentos uns meses atrás.

Também, pela minha natureza, não gosto de dividir todas as minhas experiências com o mundo. Isso já me poupa de um bocado de palpite. Também pela minha natureza, seja online ou na vidinha diária, a maioria das pessoas não se sente na liberdade de dar pitacos na minha vida (acho que sou um ser um pouco instropectivo e com fama de brava). É, eu sou gentil, mas não sou popular e não dou intimidade pra todo mundo. Fui assim desde criança. Minha irmã é o inverso de mim. Já tentei ser diferente, mas isso exigia um esforço enorme e um gasto de energia que eu não consegui bancar. Com o tempo, aprendi a gostar da minha forma de ser e viver e passei a ver o lado bom desse meu estilo “mineiro” de ser: os meus amigos eu mantenho bem próximos, com os demais eu sou gentil mas muito desconfiada.

Sobre todos esses movimentos e essas bandeiras levantadas online, eu penso que a chave é o respeito. Todos, ou deveria dizer todas, têm direito de expressar sua opinião, desde que mantenham o respeito. Sempre que penso sobre esse assunto gosto de ter em mente que somos todas mães, estamos todas lutando para fazer o melhor para nossos filhos, para sermos felizes e fazermos eles felizes. Gosto de pensar também que essas discussões acontecem em uma rede de iguais e que todas sempre têm as melhores intenções.

Gosto de pensar, por exemplo, que quando alguém dá um palpite ou discorda de uma postura de outra mãe, o faz no intuito de colaborar com aquela mãe e contribuir para sua busca de felicidade. Mas, acredito também, que antes de optarmos por expressar nossa opinião e dar instruções às outras deveríamos nos perguntar se estamos fazendo isso para de alguma forma alimentar nosso ego e reafirmar nossa ilusão de mãe-modelo ou se estamos realmente dispostas a ajudar. Acredito que ao fazer essa pergunta, seremos capazes de entender melhor se naquele momento estaremos contribuindo com aquela pessoa ou se estaremos apenas exercitando uma postura auto-centrada. E mais, provavelmente, ao pensar assim antes de emitir nossa opinião, teremos muito mais cuidado com a forma. Escrevendo com o outro em foco, certamente não iremos ferir por simples descuido.

Informação, nua e crua, é uma mercadoria abundante no mundo de hoje, principalmente quando tratamos desse público específico, com acesso a internet, com alta capacidade de comunicação e entendimento. O que você pode oferecer além de informação?

“Como assim, você está dizendo que eu não posso dar minha opinião sincera? Que eu não posso ser franca?” Não. Eu acredito que cada um tem direito de expressar sua opinião, mas o seu direito termina quando começa o do outro. É preciso não só tolelar mas respeitar maneiras diferentes de pensar, convicções, crenças. Você pode estar muito segura de que o que você está propondo é o melhor, mas precisa aceitar se o outro não compartilhar da mesma visão. Sem desmerecer o outro. Sem julgamentos de valor. Com muita comprensão e respeito.

Qual a medida exata disso? Não sei. Acho que nossa sociedade está sempre testando esses limites. Mas respeitar as opções dos outros, em qualquer aspecto, é uma das maiores virtudes que um ser humano pode ter. As pessoas são diferentes, agem e pensam de forma diferente. Portanto, mesmo que você tenha feito um juízo sobre alguma postura de outra mãe, não condene sem antes se aproximar, sem conviver e compreender a fundo. Ofereça uma ajuda real, contribua verdadeiramente para felicidade da outra . Não se limite em emitir juízos e condenações para sua própria satisfação. E acima de tudo, vamos evitar fanatismos e extremismos. Pois todos nós sabemos onde isso pode levar.

Nós somos todas mães. Fazemos tudo o que podemos. Sempre. Somos a melhor mãe que podemos ser. E somos também a melhor pessoa que podemos ser. Estamos todas em busca da felicidade e querendo nos livrar do sofrimento.

6 comentários:

  1. Pôxa, Alice...adorei o tom que deu ao seu texto! Concordo com tudo o que vc disse e a citação lá em cima do Bobbio foi de arrepiar.

    Beijo

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  2. Alice, seu texto surpreendeu.. as vezes falta muito respeito da parte das mães para com as outras mães, por simples falta de altruísmo, na sociedade em geral.
    É mais fácil olhar o cisco no olho do outro do que no seu próprio.
    Fico feliz em saber que você se superou e hoje consegue ouvir as críticas sem se deixar abalar.
    Parabéns!

    Beijos

    Karin

    www.mamaeecia.com.br

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  3. Que texto maravilhoso!!! Era tudo que eu precisava ouvir nesse momento pós-parto!!! Obrigada.

    Beijos meus e do Fred!

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  4. Como já dizia nossas mães: Respeito é bom e todo mundo gosta!

    Se todas pensassem antes de falar, o mundo seria bem melhor!

    Ótimo texto.

    Bjs
    Elaina
    http://www.vidademae.net/

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  5. Lindoooo seu Post!!!! Fiquei arrepiada!!!!
    Ser mãe hoje em dia é muito difícil!! Existem muitas pressões impostas pela sociedade e por nós mesmas relacionadas a atingir a perfeição!!

    Falo diariamente para minhas clientes que esta perfeição que elas buscam é impossível de alcançar e que não existem atitudes certas e erradas, só existem atitudes necessárias para o momento!!

    Ensinamos técnicas que ajudam a compreender o bebê e as crianças, mas por mais que tentamos nunca conseguiremos ensinar o respeito!!! Isso é algo que vem de dentro.

    O respeito (por incrível que pareça) é uma lição muito difícil de se aprender porque nós mesmas não nos respeitamos. Não respeitamos nossos limites e em muitos casos nem nossas próprias necessidades!!!!

    Parabéns pelo Blog e pelo Post HONESTO!!!
    Abraços Mari

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  6. Ola Alice tudo bem gostaria do seu contato tem como me enviar? web@lojaanjodaguarda.com.br

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