quinta-feira, 28 de abril de 2011

sobre o real e o imaginário

um dos grandes benefícios que a passagem do tempo nos traz é o entendimento da nossa própria essência. eu sou uma contadora de histórias. e o que me faz aquilo que sou foi muitas vezes a armadilha que me roubou horas, dias, meses ou até anos.

ser uma contadora de histórias significa ter a imaginação tão intensa quanto a percepção. ter uma vocação pra juntar peças, palavras, atos, acontecimentos ou qualquer coisa, em elaborados enredos que desafiam até os seus desejos mais íntimos. é poder viver muito além do que o mundo apresenta. é poder acrescentar, expandir ou recriar a realidade. e tudo isso pode render maravilhosas aventuras, curiosas histórias e romances arrebatadores, mas tem também o poder de ofuscar a clareza dos fatos e nos levar por caminhos de grande turbulência.

o tempo ensina, para aqueles dispostos a aprender, formas de manter a sanidade sem perder a criatividade, de distinguir de forma mais eficiente o que vem do outro e o que está apenas dentro da sua imaginação. essa linha divisória, muitas vezes embaçada por nossa visão particular, é essencial para nos manter em contato com o exterior. pois, ainda que tudo pareça mais interessante dentro da nossa versão do universo, tentar impô-la aos outros pode ser exaustivo e destruidor.

para me proteger dessa tentação, criei uma regra simples: tudo é uma invenção minha, até que se prove o contrário. a princípio, todos os meus amigos são imaginários. todos os meus amores são platônicos. todas as minhas viagens são pela terra do nunca. o que não for assim, vai se provar diferente. porque aquilo que não é fruto da minha imaginação, tem vontade própria e, cedo ou tarde, me surpreende.

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